Pau de canela

terça-feira, abril 06, 2010

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Solta e descalça, a querer desprender-me deste medo de me revelar
mulher humana

domingo, setembro 21, 2008

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Peço ao que é divino
Que te guarde protegido
Sereno de saúde e harmonioso de alma.
Que te acolha que te não posso
Sempre, agora, contigo longe,
Envolver em meus braços defensores
Mães sustendo seus filhos em concha.


Peço que me queiras tua
Para além do que tenho de bonança em mim.
Almejo o fado de ser tua
E nas janelas calçadas das ruas
Te sonho e te reinvento extraordinário.

E junto às estrelas beirando meu sono,
Esta prece te dedico,
Que por ti bem fadado
Solto um amor mais que sonhado.



terça-feira, março 11, 2008

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Andando de lugar em lugar, a saudade torna-se um lugar comum. Torna-se persistente e ruminante como a quentura do sol, que te enruga a pele das mãos, e te engelha a garganta e a voz da secura, da sede.

Saudade como a força do sol. Sol, saudade. Sol, aridez.

Sol, presença ausência.
Sede.

Vocabulário escasso, raramente falo.

Sede.
Sede de encontrar um caminho que me faça parar, ancorar.
Apenas ficar, fixar, sedimentar.
Deixar a areia assentar, gozar a sombra.

Onde
sobreviver, onde me permitir uma existência de natureza carente, ao largo de outra escassa natureza.
Onde
pendurar com alguém laços de dureza e solidão irreparáveis.
Onde
edificar nesse alguém um verdadeiro sentir, num toque que vá mais além que o pressentimento de sobreviver.

Onde enterrar a sede, plantar e colher a abundância que seja suficiente.

Ter filhos.
(que sei, vão um dia sentir sede…)


escritos de Abda Álmas


terça-feira, janeiro 08, 2008

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Para mim. És. A minha casa.
A ti regresso. Das investidas no mundo. Em ti me albergo,
meu amparo, minha urgência.
minha vontade
minha chegada
Galopar sempre até ti, até mais dentro.
O quarto que existe. No aroma do teu sopro. É a minha casa.
Casa que é teu som aberto
Em ti moro e vivo e descubro,
Em ti me recrio, me repouso.
E me sobressalto, me desbravo.
E ouso construir, mimar.


terça-feira, dezembro 18, 2007

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Gosto que me acordes mesmo eu dentro do sono, só para sentir que chegou o instante tão melódico de te chegares a mim, eu moleza desprendida e desacordada.
Adoro essa moleza estendida em braços de palavras, manuscritos de um superego profundamente adormecido.
E tu. gostas da liberdade imensa soltura doce e espontânea que te envolve e nos recolhe.

sexta-feira, novembro 09, 2007

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Sonhei que vivia o meu sonho mais urgente e mais imediato. Tinha adormecido contigo a leres alto uma história de um livro, enredo de laços da vida humana (no sonho ouvia-se bem a tua voz arranhada, o sussurro da voz que consente um pedido e deixa cumprir um desejo [conta-me uma história], da voz que em meiguice se arranha).

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Mosaicos visões. Polaridades.
Desistir e embargar, e recolher.
Ou
Investir, plantar, fomentar.
Tudo ou nada? Mais perto do tudo? Mais perto do nada?
Frio ou quente?
Negro turvo.
- Derrubámos as pedras da calçada, desgastámos todo o chão em que antes deitámos nossas mantas que dentro de nós eram nossos abrigos um no outro. Gastámos o que não dissemos e que agora mal apagado remói, dói. Amolgadelas, nódoas negras emocionais.
Morno.
Branco límpido.
- Descobrimos a paciência dos ângulos singelos que nos formam, a sapiência dos espaços que ocupamos e preenchemos, nós, dois seres, diferentes, com acabamentos diferentes, mas compondo melodias que se articulam em tons afinados, descobrindo lá fora e testemunhando dons e choros, com que tricotamos a nossa malha quentinha e acarinhada.

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Polaridades, fases, contrariedades.

Medo. Medo de.
Medo de perder, medo de conquistar.
Medo de não corresponder, medo de não merecer.
Medo do abandono, medo da presença inteira, íntima.
Medo de ser maltratado, medo de ser acarinhado.
Medo de receber, medo de dar.
Medo dos cães, medo das alturas.
Medo de engolir uma espinha. Medo de afastar-me da minha mãe.
Medo do escuro, medo de andar de elevador.
Medo de crescer. Medo de não querer crescer, ou não saber, ou não poder crescer.
Medo de ser aprisionado, medo de ser liberto.
Medo de morrer, medo de viver.
Medo de sofrer, medo de estar feliz.
Medo de esquecer, medo de relembrar.
Medo de sonhar alto, medo de cair na realidade.
Medo de não ver, medo de assistir.
Medo de não sentir, medo de querer demais.
Medo de querer e não alcançar, medo de alcançar e não querer.
Medo de ter medos.
Medo de não ter medo.




terça-feira, outubro 09, 2007

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Manifesto-me a favor,
Decido-me afoita a favor.
Do gostar de ti, do gostar de gostar de ti, do querer inadiável desse gostar,
da vontade estirpe que firma esse querer.
Do ímpeto rebuliço de que te cumpras,
(pelo estendido horizonte em que constróis constelações

nos outros ao pé)
Da urgência de te pensar, do urgente que é ter-te, beber-te
nos dias das palavras do teu corpo
paz entrelaçada que augura
o permear o fluir,
norte pelo sul
norte em sul
sul em norte pelo norte
(gosto do argumento de desapertar a tão luminosa intensidade sob rédeas).




terça-feira, julho 24, 2007

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Palavras minhas

Palavras que disseste e já não dizes,
Palavras como um sol que me queimava
Olhar louco de um vento que soprava
em olhos que eram meus, e mais felizes

Palavras que disseste e que diziam
Segredos que eram lentas madrugadas
Promessas imperfeitas murmuradas
Enquanto os nossos beijos permitiam

Palavras que dizias, sem sentido,
Sem as quereres, mas só porque eram elas
que traziam a calma das estrelas,
à noite que a assomava ao meu ouvido

Palavras que não dizes, nem são tuas,
Que morreram, que em ti já não existem
Que são minhas, só minhas, pois persistem
Na memória que arrasto pelas ruas.

De Pedro Tamen, cantado por Carlos do Carmo



sexta-feira, junho 29, 2007

Bossanova, bendita



Se é possível que cada um de nós possa ver-se, descrever-se, confundir-se, por pequenos esquadros, detalhes, criações, momentos abstractos (não pessoas, mas frutos, criações de pessoas), que nos surgem incautos, sem serem anunciados, que nos surpreendem pelas similitudes com a nossa forma de sentir o mundo, os nossos passos, personalidade, o nosso perfil.

Se é possível um ressoar profundo de algumas formas ouvidas, lidas, sussurradas, perscrutadas…. a mim… toca-me bem a dentro o som solto, leve e tão cheio, escutado com toda a fé, paixão, da bossanova, som tão quente, tão vivo… toca-me e, sem palavras, olho-me nessa forma ouvida.

(como qualquer coisa que foge descontrolada, que prende, sem razão, como um encanto imediato, um fascínio, um doce embalo arrebatado, e ao mesmo tempo como se há muito conhecido e intrínseco…)

(num expressar
roçando bem perto os sentires densos do amor…)

Como este som tão belo, imenso…
(um entre muitos)

Cazuza & Bebel Gilberto, Preciso dizer que te amo


Quando a gente conversa
Contando casos besteiras
Tanta coisa em comum
Deixando escapar segredos
E eu não sei que hora dizer
Me dá um medo (que medo)

É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
É, eu preciso dizer que te amo Tanto

E até o tempo passa arrastado
Só pra eu ficar do teu lado
Você me chora dores de outro amor
Se abre e acaba comigo
E nessa novela eu não quero ser teu amigo

É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
Eu preciso dizer que eu te amo
Tanto

Eu já não sei se eu tô misturando
Ah eu perco o sono
Lembrando em cada riso teu qualquer bandeira
Fechando e abrindo a geladeira a noite inteira

É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
É eu preciso dizer que eu te amo
Tanto


terça-feira, junho 19, 2007

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Quanto mais a minha vida repara e participa das vivas esquadrias do mundo lá fora, eu janela debruçada olhando mosaicos em cores e padrões e estilos e verdades tão diferentes,

...mais se arvora e eleva num mundo cá dentro um estremecer indomável, de tirar o fôlego (um sobressair, o predominar, aquele jeito - teu). Quanto mais vejo e ouço e pressinto, mais me afirmo em assombro perante tanto verdejar, clareado apaixonante.

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Vendedor de sonhos
Tenho a profissão viajante
De caixeiro que traz na bagagem
Repertório de vida e canções
E de esperança

Mais teimoso que uma criança
Eu invado os quartos, as salas
As janelas e os corações
Frases eu invento
Elas voam sem rumo no vento
Procurando lugar e momento
Onde alguém também queira cantá-las

Vendo os meus sonhos
E em troca da fé ambulante
Quero ter no final da viagem
Um caminho de pedra feliz

Tantos anos contando a história
De amor ao lugar que nasci
Tantos anos cantando meu tempo
Minha gente de fé me sorri
Tantos anos de voz nas estradas
Tantos sonhos que eu já vivi


Milton Nascimento

sábado, junho 09, 2007

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Medo de perder nos terrenos humanos e infiéis das cidadelas da memória, os pormenores libertadores: o ritmo, a entoação, o traçado preciso, das melodias daquele olhar encalorado, da esquadria da mão em voo pássaro, de um aroma quase palpável de tão declarado.

quinta-feira, maio 17, 2007

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Pranto. Chuva que cai, lá fora dentro, molha e cura, abranda, enxagua.
Dor. Cacos dispersos despojados vazios num tecto angustiado. Num amparo sombrio o medo.
Perder. Deixar de ter assim, daquele jeito, inspirado aflorado intenso inesgotável. Sem condição.
Ter. Ousar, libertar pelo pertencer, confiar, querer, ser, a mulher, mais mulher. Conceder, dar como dádiva.
Meu amor. Fado tecido por pincéis alvos, verdades clareiras nos itinerários que personificam o meu inteirar-me de mim.



terça-feira, maio 08, 2007

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Falo do que me contam e segredam estas areias que piso sempre, escuto-as em cantilenas milenárias que descrevem as novidades corriqueiras dos dias dos homens. Dos desafios, e das grandes virtudes, e das delicadezas dos sentimentos de que é capaz uma vida humana. No movimento das areias vejo páginas e páginas dedilhadas, amarelecidas, escritos sobre o amor. O amor, esta palavra impossível no dicionário do meu deserto (ou no meu ser desertado…). Tantas histórias, tantas cores, matizes, cambiantes, maravilhosas, encantadas, amargas, infelizes, lancinantes… interrogo-me e continuo sem compreender que profundidade toca cada um, em cada momento, quem é eleito, por quem? Não nasci de uma história de amor. Do amor só lhe conheço as palavras que ouço que o distorcem. Para mim o amor é um achado perdido, um movimento desemparceirado.
Mas a voz da poeira de areia que se agita e se me adianta aos pés revela-me pesadelos, torrentes, medos intensos, de perder, para sempre, de ficar sem, só, sem. (num destroço, desvitalizada). Bem dentro no meu oásis quisera eu celebrar o amor. Conhecer, testemunhar, abençoar, bendizer. O que quer que seja o amor, inscrito neste dourado que teima em me acercar.

Por Abda Álmas



sábado, abril 21, 2007

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Voltar às palavras, nos cantos
da casa, nos cantos da rua.
Voltar ao caminho, na caligrafia
de traços escorados, num esboço sincero.
Permitir o movimento, bendizer o acontecer-ser, fazer-me acontecer, ser mais.

sexta-feira, abril 20, 2007

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Mehira diz que pressente o amor à flor do seu calcanhar na areia. Talvez um amor condenado, ele não é tuaregue. Ela vê-o de tempos em tempos (sem o pressagiar, na cadência do tempo que o deserto lhe permite), e durante todo o dia solar, e por entre os meses e as rotinas, vejo-a a caminhar num rumo certeiro, com os olhos de brilho mais adiante do que o trilho ainda virgem. Não lhe vejo os lábios por debaixo do véu mas sei que vai a sorrir, quase que a ouço, abençoa-o em seus passos. Como se guardasse um imenso segredo. Como se galgasse em seus pés a grande conquista.
(Se vou a seu lado, apetece-me perguntar-lhe tanto…)


Por Abda Álmas

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Ironia do destino. Estou sempre em movimento, passos diferentes em cada sol, mas no meu dentro estou estagnada, parei à sombra de muitos sóis atrás, e caminho, só existe o que já percorri. Do pouco que me dizem estas areias caladas. Mas elas são o que eu sou.
Ferida, caída, amachucada. Desgarrada do mundo do apego e do apreço. No deserto, o amor é volátil, a luta do corpo que quer viver, na sua sede que cega, faz tombar nas areias os desejos mais nobres.

(No meu deserto, o amor é um segredo suspirado na hora sem sombra).
Mas que sobrevivência é possível sem o amor?
Ando, avanço, percorro na rota desenhada, escaldo-me nos pés e no coração; para quê?

Por Abda Álmas

quarta-feira, abril 11, 2007

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Mago
(de)
meã

Há, de mim, o que houve e era antes, que ficou, lá em baixo na maresia, no nível da água, nos sentires planos, mornos, amorfos, daqueles assim assim.
A mim chegou (tocou, brindou, inundou…). Bela presença luminosa.

Uma rota de viragem
(Por isso) a ele escuto.

(Só porque)
Traz na bagagem
Um concerto dos mais puros e raros gestos palavras sementes semeando especiarias
Cultivadas bem a dentro no coração
A sinfonia da aragem delicada de verdade sábia,
a brisa que traz a novidade de ser solto

Dança embala encanta
(no mundo das gentes que encontra)
Dança na minha gente que se apaixona.
(na minha gente que labuta no sentir plenamente)

No esplendor, na herança de pertencer ao mundo,
Enriquece os mundos das gentes que toca
(e de quem bebe inspiração) com o seu aroma
(o aroma das coisas claras e límpidas,
o aroma a ser feliz, o aroma a ser verdade
o aroma à candeia dos sentires intensos).

Chega liberto para desvendar os povos imensos
hereditários sentimentos dos dias à solta por descobrir,
dos significados a conquista; ama este som.

Nos seus trilhos razões de ser ser a despontar
(de ser assim, mago).



quarta-feira, janeiro 31, 2007

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A minha vida transporto-a comigo em cada novo amanhecer nas indefinidas e permanentemente mutantes orlas das dunas, poeira fina, dourada em constante ondulação, encantamento.
Os contornos de hoje não serão os de amanhã.
No dia que passou outras configurações adornaram este espaço que percorro, hoje irreconhecível como tal. A rotina é aqui uma lua diferente.
A minha sombra está presa a mim, em cada passo, como a veste branca que me cobre o rosto e o cabelo escuro.
A veste branca que acolhe os meus pensamentos mais incautos. O deserto caminhado é a minha vida, mas irei alguma vez parar para contemplar o que não muda todos os dias, o que perdura e se edifica dentro de paredes e portas e janelas, o que fica da presença persistente num mesmo espaço?

por Abda Álmas

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Do tempo


Haverão sempre certezas. Como a de que não tenho tempo para ti. Existes muito para além do meu tempo apressado e fugidio nas malhas da cidade que me habito.
Por isso, contigo não há tempo, os balizamentos que ele impõe expandem-se, e os códigos mais simples ficam despojados da sua certeira rigidez. Assim, os minutos podem durar horas, e outras horas tantas desvanecem-se em segundos.
Contigo o tempo é menor, subalterno, não domina como no resto do dia, da hora, do corrupio.
És para mim mais do que um tempo, e o tempo passa a pano de fundo.
Se perder a hora, se correr um pouco mais, quando o redemoinho das ruas me devolve ao tempo, não importa.
Importa que em ti (ao pé de ti, só de te olhar) nasce a tranquilidade de não haver hora para nada, de tudo chegar sempre a tempo.
Do tempo não ter, e não ser, hora marcada.
Da hora dar tempo e espaço para tudo.

Escrito


Domar a preguiça, escrever sem destino e sem hora. Assim se tomam as palavras dos significados mais belos? Escrever por necessidade, por loucura, por anseio, por compulsão. Escrever por alívio, ou por prisão? Intensidade. Descarregar em leve caligrafia o que o coração carrega num fardo desmesurado. Escrever porque a palavra no seu quê de ficcionada também alimenta, recria e reedifica.

domingo, dezembro 31, 2006

Milagreiro


Agora vamos ter os girassóis do fim do ano
E o calor vem desumano
Tudo irá se expandir crescer com as águas
Quiçá amores nos corações
E um santeiro, milagreiro
Prevê a dor de terceiros
E diz que a vida é feita de ilusão

Aquela que um dia o fez sonhar se foi com o outro
No dia em que os dois se casariam por amor
Ele aluou
Hoje o seu pesar cintila nos varais
Usou as sete vidas e não foi feliz jamais
Toda a imensidão passou pela vida e foi cair na solidão

Mais um santo pra esculpir é o que lhe vale
Pra evitar que o rancor suas ervas espalhe
Mais um santo pra esculpir é o que lhe vale

(Interpretado por Djavan)

sexta-feira, dezembro 29, 2006

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Nesta vida apenas quero solidão
para nela verter meu pranto
confiando-me ao segredo do teu amor.
Em redor de nós dois há olhos e ouvidos
dos quais é forçoso ocultar minha paixão
quando me encontro contigo:
assim te preservo – és minha vida! –
por temor que te ponham apartada
e meus olhos possam não mais te ver.
Avisto-te e, se não fosse o meu pudor,
minhas lágrimas sobre ti derramaria.


Abû-l-Hasan ash-Shantamarî, in O meu coração é árabe.

quinta-feira, dezembro 21, 2006

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Saberás

que sem ti
o mundo continua, qual girândola
rápida, quotidiana
(mas ao meu olhar desencaixada desenquadrada desacreditada)

É. O mundo permanece, e com ele as coisas, os ritmos, as pessoas, as estações,
o sol continua a desabrochar em sorrisos.
Mudam-se humores, olhares, sentidos,
Todos eles perdidos em cacos em ecos do que já foi (em esplendor).

Poucos param pelo que alguém representa para nós,
(persistem nas suas teias rotinas minimais essenciais
impelem a avançar).

Pelo tanto que és para mim, paro. Para te enaltecer, para te descobrir, te olhar a conquistar a verdade e a intensidade que trazes transbordante.
Para estar contigo nas tuas paisagens tuas montanhas
ares frios aromas de lareira acesa.

Saber-te-ás
Um querer essência no meu existir.
Rotação de harmonia e fascínio
Acarinhando engrandecendo o meu mundo.


segunda-feira, dezembro 04, 2006

poetisares


Em mãos, por um aluno da Uiti...

Perceber as emoções.
Entender para interiorizar.
Partilhar para superar.


Saudade (por Carlos Drummond de Andrade)

Amar o perdido
Deixa confundido
Este coração

Nada pode o olvido
Contra o sem sentido
Apelo do não

As coisas tangíveis
Tornam-se insensíveis
À palma da mão

Mas as coisas findas
Muito mais que lindas
Essas ficarão

J.F., 29 Nov 06


sexta-feira, novembro 17, 2006

Achados em papel


Quis descobrir-te compor-te num esboço desenhado
Papel e carvão

Não sou eu voluntária a delinear, tu foste o guia
Ou a madureza amanhecida de te sentir
Cada traço uma onda desgovernada
Pelo significado sentido imenso que a devasta
A minha vida naqueles traçados felizes

(Soltos Crentes
Firmes, Desejosos)

quinta-feira, novembro 02, 2006

Colibri


Sabes que não sei muito mais
Do que aprendemos os dois
Em livros secretos
Tentámos fazer melhor

Como dois cristais cor de anil
Que se olham de frente e perfil
Pureza e desejo
E um toque de mão gentil

Quero ver se não respondes
Desta vez puxei por mim
Canto Voa
No bico de um Colibri

Se quiseres fazer de conta
Que não viste como eu vi
O fogo que arde
No peito de um Colibri


Luís Represas

quinta-feira, outubro 12, 2006

Por outras palavras


Ninguém disse que os dias eram nossos
Ninguém prometeu nada
Fui eu que julguei que podia arrancar sempre
Mais uma madrugada

Ninguém disse que o riso nos pertence
Ninguém prometeu nada
Fui eu que julguei que podia arrancar sempre
Mais uma gargalhada

E deixar-me devorar pelos sentidos
E rasgar-me do mais fundo que há em mim
Emaranhar-me no mundo
E morrer por ser preciso
Nunca por chegar ao fim

Mafalda Veiga


sexta-feira, setembro 15, 2006

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Há-de haver sempre um encanto
Que desacata o pranto
E tinge de branco a amargura
De ser
Ser.

Há-de haver a tristeza
Que revela a clareza
Da emoção que sentes maior.

Há-de haver uma fé
Que mude a maré
Para que a tua estrela se cumpra.

Há-de haver uma missão
Que se irrompe do coração
E te toma por inteiro.

Há-de haver o amor
Que na calmaria e no calor
É o teu rumo a tua casa.

(porque és tu, há-de)


Descobrimento


Dentro de mim
Tens um todo mundo novo
Dentro de ti

sexta-feira, setembro 01, 2006

Colorir


"Há uma diferença entre sermos transparentes e tornarmo-nos invisíveis. Na verdade, a transparência não é um jeito de ser. Mais parece uma graça que desce, de surpresa, sobre duas pessoas, ligadas num bem-querer. Dela se abre outro "olho por ti!" onde eu e tu se conjugam um no outro, ao mesmo tempo."


Eduardo Sá, in Crianças para Sempre

domingo, agosto 27, 2006

En el camino

Num destes instantes há pouco, senti-me outra vez a caminhar contigo,
Emocionada pelo teu jeito de me tocares
Pela beleza imensa que te pressinto e não posso esconder.

Caminhamos
Por entre os fenos os girassóis o dourado o pó a calçada
O barulho do cajado do vento da erva rasteira da tua voz
teu pensamento passo ritmado. Silêncio aldeia de pura
caminhada, paisagem só, cheia.
As ideias palavras recíprocas projectos sentires desejos
Os medos deixados no rasto das horas de comboio,
de não conseguir, de ser chuva
esquecidos na tua descoberta paciente da minha novidade, chegada.
A doçura do teu passo
encurtado atento
quente determinado
À minha espera a par retaguarda
Tão cuidada encantada por ti.
Sigo em teus trilhos
Irrompemos na madrugada
Desenhando uma mesma rota.

segunda-feira, julho 24, 2006

...

(…) Tu a meu lado na areia,
és areia,
tu cantas e és canto,
o mundo
é hoje minha alma:
canto e areia
o mundo
é hoje a tua boca;
deixa-me
em tua boca e na areia
ser feliz,
ser feliz porque sim, porque
respiro
e porque tu respiras,
ser feliz porque toco
teu joelho
e é como se tocasse
a pele azul do céu
e sua frescura.

Hoje deixa-me
Só a mim
ser feliz,
com todos ou sem todos,
ser feliz
com a relva
e a areia,
ser feliz
com o ar e a terra,
ser feliz
contigo com a tua boca
ser feliz.

Pablo Neruda, in Odas elementales

quarta-feira, junho 07, 2006

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Vem, corre, e diz-me que nada se poderá perder, que tudo se desdobra em renovado equilíbrio.
Eu acredito.

terça-feira, junho 06, 2006

Lembras?

Nos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz dos ombros pura e a sombra
duma angústia já purificada

Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti

Alexandre O´neill

sábado, maio 20, 2006

Benção


Entrelaça comigo uma fita de saudade e deseja-me força e alegria para o que aí vem...

Companheiros, abraçem-me e digam-me que sempre ficaremos com o espaço que fomos sendo juntos.

quarta-feira, maio 17, 2006

Conheço-a (felicidade): Já nos cruzámos, já nos deixámos olhar, já….

Entrelaçar, permanecer, mimar, sobrepor.

Já… nos… ser.

Existir para nós.


(as histórias são. Sempre.)

Uno

“Já reparaste no tempo que uma árvore leva a crescer? É um tempo muito lento, vagaroso. O nosso amor devia ser da mesma maneira”, disse ela, aproximando o seu corpo ao dele. Ele manteve-se calado enquanto a imagem da árvore lhe trazia por contraste, a ideia da fragilidade de tudo, e apertou com mais força a mão dela. Uma nuvem tapou o sol. O jardim parecia vazio e as duas almas juntaram-se numa só.


Pedro Paixão, in Quase gosto da vida que tenho

quarta-feira, maio 10, 2006

Norte a diante

Quero descobrir-te (Norte), quero olhar-te daquela montanha, o Douro no horizonte.
Quero o cheiro a lenha, a fresco, a terra molhada, a verde.
Quero o cheiro da travessia naquele rio, o cheiro da água sem cor.
Quero ver o sol a descer.
Quero ver de cima as luzes cintiladas, lá em baixo.
(e sentir as outras coisas que não consigo descrever...)

Tudo isto é norte, é saudade, é vontade.

"Parada na varanda estava ela a meditar
Quem sabe se na chuva, no sol, no vento ou mar
E eu ali parado perdi-me a delirar
Se aquela beleza era meu segredo a desvendar
Porém apagou-se a incerteza
Eram traços de beleza os seus olhos a brilhar
E vendo que outro olhar em frente havia
Só não via quem não queria da paixão ouvir falar"

Fado por Camané

terça-feira, maio 09, 2006

História verdadeira

Sim. És. Tu.

segunda-feira, maio 08, 2006

Wien Mitte


Foste tu que deste a ideia
De começarmos uma nova escrita
Ludovico Einaudi nos passos sentidos
Trauteado nos ouvidos das ruas
La la ra la dos significados de constante reconstrução
Da descoberta de quotidianos diferentes
Na busca de emoções pelo envolver na cidade.
Cidade(s) lugar(es)
Lugar(es), cidade(s)
Começos e fins
Fins e começos
Da roda, que cada ser é
Consigo e com os outros
Eterna na infinitude da re(significação).
Continuaria contigo esta viagem
Esta ideia
Das significações nossas e de nós.
Até já...

Wien, 23 April 06

Abril


Tu e Viena. Tu e Zagreb. Tu e Dubrovnik. Tu e Budapeste. Tu e Praga. Tu e Oswieçim. Tu e Viena.

Tu e eu.

Nós.

sábado, abril 29, 2006

Clareira


Leva-me a sentir o cheirinho do cascalho...

Todas as primeiras coisas importantes, pioneiras de intensidade, são-no contigo,

Olha só para estas águas límpidas, que verdade!, para a minha exploração tímida...

Enlaço-me numa dança sorrida, sou uma criança, sou uma primavera, sou fascínio, sinto um amor à minha volta, sinto tudo a transbordar porque é tanto o que tenho para te dar, não posso conter...

Desejo encantar-te nesta dança... deixa tudo aí e vem!

Vem para te mostrar (a verdade) o que só tu me poderias ensinar...

quarta-feira, abril 26, 2006

a meio da tarde...


Um abraço.
A esquina da Estefânia.

Passos meus contentes
Que bom que vieste até aqui.
As tuas pantufas.
O teu caminho.

domingo, março 26, 2006


tenho uma vida para te amar…

(e para te olhar cheirar sentir tocar escutar…sem fim sem hora... tempo todo).

sexta-feira, março 24, 2006


Se há na vida uma finalidade, um fio condutor, um objectivo destinado, um caminho delineado, inevitável (o que alguém quiser chamar….)...

... o meu traçado, a minha vocação é amar-te, a tempo inteiro.

sexta-feira, março 17, 2006

Das coisas belas...


"E quando pedimos à nossa alma gémea que nos conte uma [nossa] história?"


Uiti, 14 Março

quarta-feira, março 01, 2006

Amanhecer


Numa manhã esplêndida
Acordo submergida na limpidez de firmamentos do teu aroma.
Ignoro o quotidiano das horas. Interrompo-o. Em suspenso.
Para que eu possa escutar, receber, perscrutar, descobrir mais
Da intensidade majestosa do toque penetrante desse aroma essência
Que traça uma história onde caminho me revejo me sinto nos sinto.
A sorrir estendo-me a tal gesto de vida.

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Tocando


Carole King, you make me feel (like a natural woman)
Tom: A

A E
Looking out on the morning rain
G D D D/C# D/B
I used to feel uninspired
A E
and when I knew I had to face another day
G D D D D/C#
Lord, it made me feel so tired.
Bm E Bm E6
Before the day I met you, life was so unkind
Bm E6 D E7
but your love was the key to my peace of mind


A D A
'Cause you make me feel, you make me feel,
D A D A Bm E
you make me feel like a natural woman.

A G Gmaj7 G Gmaj7 G6
Oh, baby, what you've done to me (what you've done to me)
A G Dmaj7
you make me feel so good inside (good inside)
Cmaj7 D
and I just want to be (want to be) close to you
D/C# Bm
you make me feel so alive.



terça-feira, fevereiro 14, 2006

Poemas de Amor do Antigo Egipto

Ela...
Mesmo quando as aves levantam voo
Em ondas e ondas de grande debandada
Eu nada vejo, fico cega
Apanhada como estou e ausente
Dois corações obedientes no seu bater
A minha vida ligada à tua
A tua beleza o elo.

Ele...
Tê-la visto.
Tê-la visto aproximar-se
Com tanta beleza é
Alegria para sempre no meu coração.
Nem o tempo eterno
pode retirar-me
Aquilo que ela me trouxe.

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Epopeia


Antes de ti
O que caberia
Na esquadria simétrica das horas de luar?
Na cadência das palavras que não escreviam constelações de sentires inteiros?

E mergulho em mãos arrebatadas que te alongo
Na tua epopeia deslumbrada passeio o sonho
Em teu ser, teu estar
Nunca adormecido.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Permeabilidades



Cada um dos meus átomos a ti pertence também.


W. Whitman, in Canto de mim mesmo

terça-feira, janeiro 31, 2006

Presença


Pela flor pelo vento pelo fogo
Pela estrela da noite tão límpida e serena
Pelo nácar do tempo pelo cipreste agudo
Pelo amor sem ironia – por tudo
Que atentamente esperamos
Reconheci a tua presença incerta
Tua presença fantástica e liberta.

Sophia de Mello Breyner Andresen

domingo, dezembro 18, 2005

Marão



Estar no topo de um mundo, de pequenos presépios ao fundo, de luzes tremidas, de lenhas a crepitar o cheiro do Natal, de moinhos que são gigantes em rotação que melancolizam em sopros a sua solidão de cume. De um pôr-do-sol de aguarela, cambiantes de cor indefinidos de tão marcados e acesos. De uma atmosfera grandiosa, dona, senhora, de um frio avassalador e verdadeiro. De estrelas de brilho diamante, a par do sol. Serras, montanhas, vales, contrafortes, a criação de um mundo, de uma liberdade, de um culto.

E tu, presença liberta que semeia em mim este encantamento, esta vontade de abarcar em memória todo este horizonte laranja a perder de vista que é conhecer-te por dentro.

E eu, que em ti me sinto tão inteiramente.


quarta-feira, outubro 12, 2005

Doze dozes

Vieste para me amar por mim a dentro translúcida
E galgar os cabos bojadores nas brumas da alma-concha.
É pelas dúzias sobre dúzias de mil instantes
Absolutos, plenos, cristalinos
Que (te) esperei pelos tempos
Reconhecer (-te).

Wave


Vou te contar
Os olhos já não podem ver
Coisas que só o coração pode entender
Fundamental é mesmo o amor
É impossível ser feliz sozinho

O resto é mar,
É tudo que eu nem sei contar
São coisas lindas que eu tenho pra te dar
Fundamental é mesmo o amor

É impossível ser feliz sozinho

Da primeira vez era a cidade
Da segunda o cais a eternidade,
Agora eu já sei
Da onda que se ergueu no mar
E das estrelas que esquecemos de contar

O mar se deixa surpreender
Enquanto a noite vem nos envolver


Tom Jobim, Wave

quarta-feira, setembro 28, 2005

Back to Batticaloa

Saudade
Querer alcançar em corpo, em sentidos, o que alma vê, cheira e toca, o que os olhos não apagam de afago e desabafam em múltiplas lágrimas escorridas.
Como se só agora, há pouco, compreendesse melhor, significados que percorreram milhas até mim, onde estou.

No outro lado do mundo há alguém, tão grande de pequenito, que grita o meu nome...

Estou aqui mas afinal também fiquei lá
Se calhar foi essa a missão
Ficar um bocadinho lá
Só agora percebo
Sem saber explicar, dói, desespera de alegria.

Voltarei, já estou a voltar...

domingo, agosto 07, 2005

...

“E aí me encontro contigo, tu comigo, por entre letras, planisférios, caligrafias e mundos. Viajo por este mundo contigo dentro de mim”.

Construída contigo. Pessoa contigo. Amor tornado essência.

quinta-feira, julho 28, 2005

Caminhares

Caminho um sentir quente, chorado de vivido intensamente, onde não pertence a frieza. Na rota da emoção profunda, do vento no embate de querer a essência, tornada essencial.

Um caminho suspenso e seguro pelo teu ser surgir. Sentires que concebo porque és um todo paixão, totalidade de vida e fulgor.

Para atravessar contigo o deserto do mundo


Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei

Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso

Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo

Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento.

Sophia de Mello Breyner Andresen

domingo, junho 19, 2005

.

Chega até mim
Uma mensagem tua
Um sms dos sentidos
Silenciado cromado
(Que voz, que canto encerra)
Percorro sem pouso
Ouvido em linhas rebordos
Cabelo em horizontes
Itinerário do respirar
Texto de pele
Imaginas.
Encontras-me nesse sopro.
Gosto tanto.

quinta-feira, junho 02, 2005


Why does love leave one helpless? sometimes... she asked.
I think you are so brave...
for embracing your love above your weakness.

sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Saudade

Na distancia milhar quilometrica
Sem o enviesamento da proximidade
Do aroma teu
Valorizo o teu esplendor, dom sereno
Atracado na minha alma enseada.

Em momentos turbilhao
Na agrura de olhos desedificados sorridos
Do verde intimo e duro do Ceilao
A saudade ancorada solta-se ao calor plano
Porque reinas em mim.

Tsunami

Batticaloa. Calquei e galguei o solo, a areia mais fina e pura, a mais adiante no mar, pioneira na furia das aguas de dezembro. Areias solitarias, desoladas, abismadas de silencio quebrado pelos corvos. Graos que poucos olhos olham agora. Nao ha vida nesses graos, apenas vestigios do que foi e deixou de ser, testemunhos do que nao volta mais assim que o mar irrompe.

Batticaloa. Um lugar onde os extremos se tocam, beleza genesiaca tingida pelo desastre impune.

domingo, janeiro 23, 2005


Bem tento, mas as palavras âmago e os algoritmos de afecto que me extravasam não chegam para num todo te escrever, compor ou esboçar. Porque estão confiados e devotos apenas ao verde montanhês do teu absoluto ser coração irredutível.

sexta-feira, janeiro 21, 2005

Interstícios


Cumprimos a vontade de nos sermos juntos. Porque um adjacente ao outro seremos em nós notícia, missão, laço, alicerce. Aproxima-nos o nosso espaço intersticial. Intercepto as avenidas dos esguios trilhos teus, e conjugo-te nas esquinas cordilheiras das noites e nas baías recônditas dos dias; todos os instantes são horas de te viver.

terça-feira, janeiro 11, 2005

Poesia


"Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente
Puro espaço e lúcida unidade
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade".

Sophia de Mello Breyner Andresen

Como esta praia nos sinto, apaixonadamente lúcidos em pura onda corrente de liberdade.


quarta-feira, janeiro 05, 2005

...

Ao amar-te
Existo
Contigo
Por ti
Para ti.

Ser-me-és
Ser-me-ás
Apenas magnificamente
A alvorada
O sentido
O porquê.


terça-feira, dezembro 28, 2004

Equador

Latitude 0º
Voo sobre o meu território
O meu pertencer
Planando tranquila
Na coordenada de te querer.
Decalco geografias
Qua não vêm nos mapas
Vêm da terra, de um ser construindo
De ti e da tua longitude.
E pouso no doce planisfério
De te sentir e olhar e aproximar e cuidar
Porque me és equador.

sábado, dezembro 25, 2004

Prenda de Natal

A ti, que me deste o caderninho
E que sabes como ninguém a maré das palavras
Te agradeço e te adoro
Por me dedicares tão belas páginas e letras
Que já cobri de estima e carinho.
Escrevo sobre o caderno
Pela paixão inspirada que exala de suas folhas
Escrevo para te descrever
Como me és, como me te sinto
Porque escreves páginas em mim.

sexta-feira, dezembro 24, 2004

Balada

Hoje peguei na viola e toquei-te
Numa balada Dó Lám singela e pura
Mas sentida e intensa como tu

Nos acordes canto-te
Solto ao mundo
Canto a sorte
De mesmo longe estar junto
Dedilho nas cordas

Que o teu pensamento percorre e perscruta

A origem essencial das palavras e dos seres
E a essência original de mim ti.
Leva-me a subir a montanha.
A montanha, o monte, o vale, a planície

Mesmo a planície desejo subir contigo.

quinta-feira, dezembro 23, 2004

Lágrimas e serpentinas

Por uma tristeza
Um rol de lágrimas
Duras, súbitas, directas
Até tornar translúcida a direcção.

Por um momento feliz
Sorrisos de serpentinas
Amolecidos, longos, labirintos.

Quando pressinto o quanto és em mim
Serpentinas lacrimejadas
Duras de uma moleza apaixonada
Repentinas e longas na lembrança
Directas, pelos labirintos meus que desvendam.

terça-feira, dezembro 21, 2004

Chegada para a partida

"E assim chegar e partir
São só dois lados
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro
É também despedida"
Maria Rita

...A viagem, ponte suspensa entre o vivido e o sonho do que virá.

A benção de amar existe, sobrepõe-se, e o coração devolve escancarados sorrisos
Mas os olhos logo alcançam o precipitar da distância, o aproximar do cais
E por isso soluçam pequenos choramingos.
A liberdade, o poder do percurso, a força da velocidade, traçados (in)destinados.
A certeza aguçada da chegada.
Para onde segue o comboio?
Chego. Saio. Olho-te longamente na paragem
(parece-me que nos cederam alguns segundos)
Deixo-me adorar-te mais.
Apartam-me os teus olhos quentes
Que têm dentro as cores térreas do caminho

Vejo-te liberto de amarras e nós
Solto no ar fica o pretexto para o reencontro.
E assim, embora comigo estejas,
Segues viagem para a partida, e eu parto para a chegada
Mais certa de que também quero chegar a partir, ainda que caminhando mais devagar.

Prelúdio (para a Mariana...)

O piano dolorido encena o silêncio
Em que se tecem lágrimas e foguetes
Caprichoso e rebelde nos agudos
Nos graves afirmado e senhor
Emudece a voz e consente o ouvido
Numa escala de sons multicolores.
O piano é como o búzio:
Nele ouve-se o mar, a tempestade
Canta a paixão e a dor.
O piano é o princípio, o primeiro
Orgulhoso quem lhe dá voz.

segunda-feira, dezembro 20, 2004

Vida

"Luz do sol
Qua a folha traga e traduz
Em verde novo
Em folha, em graça, em vida, em força, em luz
Céu azul que venha até onde os pés
Tocam na terra e a terra inspira e exala seus azuis
Reza, reza o rio
Córrego pro rio, rio pro mar
Reza correnteza, roça a beira a doura areia
Marcha um homem sobre o chão
Leva no coração uma ferida acesa
Dono do sim e do não
Diante da visão da infinita beleza
Finda por ferir com a mão essa delicadeza coisa mais querida
A glória da vida"


Gal Costa

Peregrino

Admiro a busca do peregrino
No cajado a vontade
Da montanha a força
Quero passos corajosos, imbricados de fé
De um olhar mais puro, mais dentro
Também eu serei peregrina
Do amor e da verdade.

quinta-feira, dezembro 16, 2004

"Agora onde te despes
É verão:
Tudo acolhe
E afaga
O que o teu corpo tem
De concha molhada."

Eugénio de Andrade

terça-feira, dezembro 07, 2004

União

Feliz por nos termos deixado ser quem nos tornámos.

Bússola

Norte Caminho Cajado Légua
Sul Cor Coral Areia
Norte na quietude ancorada do sul
Sul na busca estelar do norte.
Norte e Sul na mesma direcção da bússola.

quinta-feira, novembro 11, 2004

Revolução

Tenho uma revolução cá dentro
Mortos, feridos, caídos em combate
A alma revolve, o corpo ressente
Amorfo, vontade derrotada.
O coração continua a amar.
Não sei quem vence, o eu antes, o eu depois
Revolução propõe mudança,
Caminho, escalada
Querer ser mais, no mesmo.
Se amanhã fosse fim,
Estaria acabada
Porque hoje ainda não te disse
Que afundar-me no teu mar
É achar-me na minha concha sal.

domingo, novembro 07, 2004

Ser

Palavras a mais para quê
Quando morrer
Não quero ser eterna
Eterna quero a vida
Límpido o meu ser
Em cada momento lágrima
Cada gesto abraço
Em tudo o que sinto e amo
Nas pessoas a quem me dou
E que transbordam em seu estar.

sábado, novembro 06, 2004

Ausência

Sinto-te
Para além
De todo este mundo
Que nos separa.
Porque nasces
Em mim
Na madrugada de cada momento.

Ausência
É caminhar
Num dia-a-dia
Sem uma parte de nós mesmos.
Faltas-me.

M., A.

Uns versos

Sou sua noite, sou seu quarto
Se você quiser dormir
Eu me despeço
Eu em pedaços
Como um silêncio ao contrário
Escrevo uns versos
Depois rasgo

Sou seu fado, sou seu bardo
Se você quiser ouvir
O seu eunuco, o seu soprano
Um seu arauto
Eu sou o sol da sua noite em claro,
Um rádio
Eu sou pelo avesso sua pele,
Seu casaco
Se você vai sair
O seu asfalto
Se você vai sair
Eu chovo
Sobre o seu cabelo, pelo seu itinerário
Sou eu o seu paradeiro
Em uns versos que eu escrevo
Depois rasgo

Adriana Calcanhotto in Público

domingo, outubro 31, 2004

Farol

És farol e faroleiro
Mostrando mares e marés para além do oceano
Sustendo e acarinhando meus pensamentos concha
Eu, areal estendido num sussurro contente.

terça-feira, outubro 26, 2004

Norte

O norte velho se diz, mas é quem me acorda de embalo e deita amanhecendo-me.

domingo, outubro 17, 2004

Piano

There is a silence where had been no sound
There is a silence where no sound may be
In the cold grave, under the deep deep sea.

Thomas Mood, in the Piano

segunda-feira, outubro 11, 2004

... És tão grande que cabes na palma do meu coração.

domingo, outubro 10, 2004

Sentires e Intensidades

Não suporto.
Odeio, detesto!
Não aprecio.
Não ligo muito.
Não aquece, não arrefece.
Escapa !
Até tem a sua piada...
Gosto (ou gosto muito)
Adoro (ou adoro muito)
Amo
Venero.
Para meu bem e meu mal, tudo isso vou sentindo, tudo isso espero ou evito.

Algarve

Amo o Algarve quente
Aroma sol ouro
Pura areia, céu mar
Rostos de perfume
O vento das marés
Conchas roladas
Noite solar
Assim é o meu verão Algarve,
Um fulgor
U m grito
Uma vertigem
Uma paixão.


Vidas de Des(Amor)

O amor nunca mais chega!
Para mim não resulta.
Imagino, farejo, milagres de amor que não me vêem...
Sou servo, explorado, estagnante.
Talvez tranquilidade desassossegada!
Duvido, recuso, ausento-me.
O amor fica-me justo, faz-me não caber em mim.
Carrego-o aos quilos
E volto maior.
Não. Cansei-me caída, trocada, deixada, remexida.
Só feridas sem crosta.
Âncoras que prendem desejos, entregues silêncios calados.
Quereres e deveres, lágrimas de chão e cortinas hieróglifas.
Melhor não buscar perceber!
Apenas pressentir, desdobrar, cultivar...

sexta-feira, outubro 08, 2004

Cascas...

Estar disposto a amar é quando nos "viramos do avesso, para apanhar sol por dentro". Há que rasgar as sucessivas cascas, mantos empilhados, e ficar a descoberto, ao vento, à chuva e ao sol.

domingo, agosto 29, 2004

...Confins

Desde que o tempo é tempo
Desde que a terra é redonda
E existe um firmamento.
Desde os confins
Choro e rio por ti.
Perco-me, procuro-me, ergo-me
Sobrevivo.
E tu vens e impões-te sempre;
Tenho o coração amolecido pela tua dureza.